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O João Barquinho...

A loja do Sr. Zé estava quase a fechar….

- Boa noite, queridos brinquedos! Por hoje terminámos! .....................................................Esperem! Quero dizer-vos outra coisa. Amanhã devem chegar novos brinquedos. – disse o Sr. Zé.

- Novos brinquedos , hã……! Boa noite Sr. Zé! – disseram os brinquedos.

Ouviu-se a sineta da porta.

O Sr. Zé já tinha saído. Os brinquedos estavam em silêncio. Na prateleira de cima só havia dois tambores e dois barcos.

- Estamos muito tristes! Nem parecemos brinquedos! – disse o barco Sebastião.

Era um barco já idoso e poeirento. Há três anos que estava na loja.

- O Palhaço Pimpão já foi comprado! Agora já não temos quem faça gracinhas. E tão bonito e divertido que ele era! Sabem uma coisa? Hoje, quando aquele menino pediu á mãe que lhe comprasse o Palhaço, só tive vontade de lhe dar uma palmada! Éramos quase uma família! – comentava o Tambor Afonso.

- Pois é! Foi uma tristeza para nós terem-no comprado! – Dizia o Tambor Ernesto.

- E o Sr. João Barquinho, o que diz? – perguntou o Barco Sebastião.

- Eu também acho que ele espalhava alegria! Mas…sabem…já cá não está o Palhaço Pimpão...e se queremos estar alegres, terá que ser por nós próprios! Que dizem? – perguntou, muito entusiasmado, o João Barquinho.

- Nós também concordamos! – disseram os outros.

- Então vamos procurar alguma coisa! Estou convencido que nos vamos divertir! – disse o João Barquinho.

- Vamos !! – disseram os outros.

Começaram todos a andar.

A uma determinada altura viram uma coisa pendurada por um fio.

Estão a ver? O que será aquilo? – disse o tambor Ernesto.

Aproximaram-se.

- Ah, o que será isto? Nunca conheci nada semelhante! Deixa-se ver! Hã? Tem tantos buracos! Para que servirá? – questionava o João Barquinho.

- É um apito! Disse o Boneco de Molas.

- Um apito! E você o que é? – perguntou o Tambor Afonso.

- Ah…eu sou um Boneco de Molas! Estão a ver? ….. É para saltar e fazer  habilidades! – disse.

- E você conhece o apito? Como é que se conhecem? Aquilo é uma coisa tão estranha! – disse o João barquinho.

- Ah, Mas um apito é muito conhecido! Vocês não o conheciam? Serve para apitar! Ora, querem ver? Mete-se na boca e….sopra-se…..PRIUU,PRIUU! Estão a ver? – disse o Boneco de Molas.

- Ah! – Mas isso é engraçado! Deixe-se experimentar ! Ora, vamos lá ver se o entendo! Mete-se aqui a boca e…PRIUU,PRIUU! – disse o Barco Sebastião.

Todos experimentaram.

- Mas……só faz isto? – perguntou o João Barquinho.

- Sim! – respondeu o Boneco de Molas.

- Pois então é muito chato! Não serve para nos divertir! – disse o tambor Afonso.

- Sim, muito chato! É sempre a mesma coisa! – responderam os outros.

- Vamos embora! – disse o tambor Ernesto.

- Esperem! Deixem-me ir também ! Eu conheço lugares muito bonitos! – afirmou o Boneco de Molas.

- Por mim, acho que podes ir! O que dizem? – perguntou o João Barquinho.

- Nós também concordamos! – responderam olhando uns para os outros.

- Onde são os lugares bonitos que conheces? Ficam perto? – perguntou o Barco Sebastião.

- Sim, ficam nesta direcção! Só teremos que saltar! – disse o Boneco de Molas - Bom vamos lá!

- Vamos! – disseram os outros!

Começaram a andar.

- É ali! – apontou o Boneco de Molas.

- Ah, mas é uma bailarina! E está a dançar! Que bonito! – disse o João Barquinho.

- Pois é! E há música! – disse o Tambor Ernesto.

- Sim! Vamos aproximar-nos! – disse o Boneco de Molas

- Quem quer dançar comigo? Quem quer? – dizia a Bailarina.

- Eu, Eu! Eu quero dançar ! – ofereceu-se o Tambor Afonso.

- Então…vamos dançar! – disse a Bailarina – Mas você não sabe dançar1…. Eh!..Cuidado!....

Caíram os dois…

- Ai as minhas costas! Você não sabe dançar e ainda me derruba! Não gosto de si! – disse a Bailarina.

- E de mim? Quer dançar comigo? – perguntou o Boneco de Molas.

- Você parece simpático! Consigo danço! – disse.

Dançaram durante alguns instantes.

- E você? Quer dançar comigo? – perguntou a bailarina.

- …Eu? Você …está…está a pedir-me para dançar? Não! Gostava de dançar, mas não posso! É muito gentil! – disse o João Barquinho.

- Gosto muito de si! Dançamos amanhã! Está bem? – perguntou a Bailarina

- Está bem!! – gaguejou o João Barquinho.

- E se dançasse sozinha para nós? – perguntou o Barco Sebastião.

- Sozinha?

- Sim, porque não? – disseram eles.

- Está bem! Vou dedicar esta minha dança ao João Barquinho.

Como gostaram um do outro…..

Ela dançou alguns instantes. Quando terminou…..Aplausos no final…..

Despediram-se então…

Ao chegarem ao seu cantinho…..estavam tristes…

- Ela dança muito bem! Se soubesse dançar, tinha dançado com ela! – dizia o João Barquinho.

- E aquele Boneco de Molas todo sorridente a dançar com ela! – disse o tambor Afonso.

- Sabem uma coisa? Tenho que aprender a dançar hoje! – disse o João Barquinho.

- Como? Nenhum de nós sabe dançar ! – disse o tambor Ernesto.

 - É fácil! O que é preciso é ter música! Já temos tambores. Só precisamos de uma guitarra! Estão a perceber? – perguntou o João Barquinho – E nós vimos dançar a Bailarina, não é?

- És capaz de ter razão! Vamos convidar uma guitarra! – disseram os outros

Olharam para a prateleira de baixo e gritaram:

- Ó Sra. Guitarra Josefina!

- Hã ?! O que é isto? Será a guerra? Ai, meu Deus! – disse a Guitarra Josefina.

A Guitarra Josefina não estava á venda. Era do Sr. Zé.

Ó Sra. Guitarra Josefina! Quer vir ensinar o João barquinho a dançar? – perguntou o Tambor Afonso.

- Ah, são vocês! Ensinar? Sim, sim! Eu gosto muito de tocar! É a minha vida! Blá, blá, blá! Vamos, vamos! – disse a Guitarra Josefina.

Começaram a tocar.

Ao princípio, o João Barquinho não se mexia, mas depois já se movimentava de um lado para o outro.

- Agora dá uma volta! – dizia a Guitarra Josefina.

- Agora avança um passo! – dizia o Tambor Afonso.

- Agora rodopia! – dizia a Guitarra Josefina.

Aos poucos, o João Barquinho ia aprendendo a dançar….

Já era tarde quando se foram deitar….

Entre lençóis, o João Barquinho pensava:

- Eu já sei dançar! Amanhã vou dançar com a Bailarina.

Eram duas horas da manhã quando adormeceu…

Quando o Sr. Zé apareceu na loja, de manhã, ainda o João Barquinho estava dormindo.

- Acorda João Barquinho! Acorda! – disse o Barco Sebastião.

- Ah, o quê??? São horas de quê??? Oh, não!!!- disse o João Barquinho.

Mas levantou-se, cambaleando…..Entre a janela divisou a Bailarina e viu que ela estava muito bonita. Ela sorriu….

Entretanto…..meio-dia!

- Aí vêm mais brinquedos! – gritaram todos.

Passados alguns instantes estavam todos apresentados….

- Olá brinquedos ! Eu apresento-me! Sou o navio Eduardo! Vocês não precisam de se apresentar! São apenas barquinhos! Sem importância! Eu já estive nas mãos do Príncipe do Norte! Sou das melhores famílias! Mas….surpreendem-me!  Nem colocaram uma banda de música á minha espera! Vocês esqueceram-se da minha importância!...

Os outros brinquedos olharam para ele. De facto, na aparência, causava inveja ! Mas….era muito, muito convencido…

Á medida que falava, o João Barquinho e o Sebastião começaram a chatear-se de tanta conversa..

- Que presumido! – dizia o Barco Sebastião – Só nos faltava um convencido!...

O navio Eduardo falou, falou….Até que viu uma menina a um canto. Era a Bailarina….

- Oh, mas o que é que eu vejo? Que menina tão bonita! Deixem-me vê-la! É, de facto, muito bonita!...

A Bailarina, ao ouvir o elogio, envergonhou-se …e corou….

Entretanto todos os outros barcos se tinham afastado do grupo…

- Que mentiroso! – disse um barco novo

- Mentiroso? Porquê? – perguntou o João Barquinho.

-Porque tudo o que diz é mentira. Ele não tem pais. É órfão como nós. Só que mete na cabeça dos outros que os seus pais fizeram isto ou aquilo, para enganá-los – disse o barco novo.

- Que pilantra! – comentaram todos.

Nessa altura entrou na loja uma cliente com um filho…

- Nós queríamos uma caixinha com música! – disse a mãe

- Veio ao lugar certo. Temos uma com uma bailarina ! – disse o Sr. Zé.

Quando ouviu falar numa bailarina…o João Barquinho estremeceu…

- O quê?? Não posso crer! Eu não quero!!! – dizia o João Barquinho.

- Está bem! Eu gosto dela! – disse a senhora

- Adeus João Barquinho! – disse a Bailarina , ao olhar para ele.

- Não! Não! – Gritava o João Barquinho! – Eu não quero! Eu não quero!

- Mamã, compra-me também um barco! – pedia o rapaz.

O João Barquinho deixou de chorar e gritou bem alto:

- Compra-me a mim! Compra-me!

- Não posso comprar, porque não tenho mais dinheiro! – disse a mãe

E foram-se embora! O João Barquinho compreendeu que era a despedida. Nessa noite, deitou-se cedo….

Ao lado, o navio Eduardo contou até tarde as suas aventuras….

Quando o Sr. Zé chegou, só o navio Eduardo estava a dormir.  E foi preciso mesmo dar-lhe uma boa sacudidela para que ele acordasse.

Á tarde, apareceram dois clientes que o João Barquinho vira algures…

- Parece-me que os conheço! Já cá vieram comprar qualquer coisa!...

- Boa tarde! Nós viemos cá ontem comprar a caixa de música. Lembra-se? O meu filho agora atormenta-me todo o dia a dizer que quer comprar um barco que viu! – disse a mãe.

- Compra-me a mim! – gritava o João Barquinho, só pensando em ficar novamente junto da Bailarina .

- Compra-me a mim, que sou o mais importante! – gritava o navio Eduardo…

Mas…..na loja, todos estavam a torcer para que fosse comprado o João Barquinho.

O menino dirigiu-se á prateleira….e parou…ficou indeciso a olhar para o João Barquinho e para o navio Eduardo.

- Mamã! Qual hei-de escolher ? – disse o menino

- Claro que a mim, pois claro! Não vês que eu sou superior a este reles barco! Eu sou muito importante! – dizia o navio Eduardo.

- Eu prometo ser muito bom ! Levem-me para junto da Bailarina! – suplicava o João Barquinho.

- Este é o mais bonito - dirigindo-se ao Navio Eduardo -……………mas parece imponente demais! Quero o outro então….

Que felicidade para o João Barquinho! Ia ter com a Bailarina!

- Adeus, queridos amigos! – dizia o João Barquinho….pulando de alegria….

-Adeus……Dá notícias! – gritaram os outros brinquedos.

- Ah, coitado! Não ouviram! Não ouviram! Sou o mais bonito!....Deixa, dei-lhe uma oportunidade – disse o Navio Eduardo.

Entraram depois três meninos. Todos traziam fisgas. Um deles, com uma fisgada  acertou no navio Eduardo. Este estremeceu com a pancada. ….

- Ai…o meu corpo….! Não , não me leves! – suplicava o navio Eduardo.

- Quero aquele navio! – disse um dos meninos…

- Não! Sr. Zé, não o deixe levar-me! – dizia o navio Eduardo

Os brinquedos viram-no sair ainda a gritar.

- Oh, convence esses rapazes de que estiveste nas mãos do Príncipe do Norte! – gritaram todos.

Todos na loja se riram. Fora um convencido! Tivera o destino devido!

Daí a dias, o Sr. Zé trazia notícias.

- Oh, o João Barquinho e a Bailarina estão muito felizes! – comentou.

- E o navio Eduardo? – perguntaram os outros.

- Oh, esse coitado! Os rapazes levam-no para a água e mandam-lhes fisgas. Está todo roto. – comentou o Sr. Zé.

Todos riram

- Oh, estes brinquedos……disse o Sr. Zé.

………………Somos a alegria dos meninos………exultaram todos!....

 

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